Sim, precisávamos de um Drag Race pra chamar de nosso (mini-spoiler)

Para quem é fã da arte drag, como eu, é inevitável gostar, ou pelo menos conhecer o reality de RuPaul que, há 15 anos, populariza a arte pelo mundo, inspirando artistas a fazerem e viverem de montação se valendo de suas respectivas áreas e talentos. Mas como Madonna, em “Vogue”, popularizar não significa democratizar, nem enraizar, tampouco territorializar.

A primeira edição do reality gringo não é o primeiro reality de drag da TV Brasileira, que há tempos vem tentando emplacar um formato com queens locais, e a insegurança de, novamente, copiar a estética e a maneira de fazer das queens de fora é quase inevitável, porque RuPaul botou na mesa o que era ser drag. Só que por aqui já se fazia há décadas, as transformistas já tinham seu jeito de bater cabelo e fazer sua montação.

Acertaram. O episódio de lançamento teve como tarefa trazer um look que dissesse de onde a gata vinha, como a origem influencia sua arte e elas que se virassem para fugir de looks clássicos ou datados. Acertaram ao fazer os gringos pesquisarem o que é uma “Helena de Manoel Carlos”, que bicho é uma capivara, o que é “vinagretchen” o por que “Djavan ficou pra trás” – Bruna Braga vai dar trabalho aos tradutores.

É Brasil a cada quadro, mesmo toda a produção estando presa à estética do programa – Grag Queen tem os mesmos cacos e de RuPaul, outra drag conta seu drama sobre não ter grana para comprar os óculos e chora, edição de caras e bocas ensaiadas – nada tira o sabor de ouvir sotaques tão diferentes, um tão paulistano, outro tão paraense, delícia de falas e maneiras que só o Brasil consegue fomentar [e Gretchen também só tem aqui].

Talvez uma temporada seja pouco para que a gente consiga “roubar” o reality, muito por questões contratuais e obrigações impostas pela franquia, mas essa é a melhor chance, até agora, desde os idos tempos dos concursos de transformistas, na TV brasileira, de mostrar para o mundo que por aqui o talento não é aprendido nos tutoriais de DIY, mas desenvolvido nas periferias, nas casas noturnas do bairro, nas ruas, no fundo do quintal, na vida. Que vença a melhor drag queen brasileira!

Bee 40tona

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